Luan Santana acabou de lançar 1977 e no mundo da música não poderia deixar de ter virado noticia. E assim, o jornalista Mauro Ferreira fez uma review sobre o CD/DVD (vale ressaltar que Mauro escreve sobre música desde 1987). Então moçada, tira esse tempo para ler porque vai valer a pena.
Confira abaixo:
Para começo de conversa, 1977 é o melhor título da discografia de Luan Santana. Bem que a boa balada romântica Dia, lugar e hora (Luan Santana e Douglas César), sobre amor fadado a ser concretizado, já tinha sinalizado certo upgrade no repertório do popstar sertanejo sul mato-grossense ao ser lançada como o primeiro single deste projeto fonográfico gravado ao vivo, entre os dias 15 e 18 de agosto deste ano de 2016, em estúdio do Polo Cinematográfico de Paulínia, em São Paulo. 1977 chega hoje às plataformas digitais e, em meados deste mês de novembro, sai em CD, em DVD e em edição dupla que junta CD e DVD.
O cenário reproduz a estética dos acústicos que proliferaram no mercado fonográfico a partir da década de 1990 com o selo e a chancela da finada MTV. 1977 tem título que alude ao ano da criação do Dia Internacional da Mulher porque, em metade das 12 músicas, Luan recebe cinco cantoras (Ana Carolina, Anitta, Ivete Sangalo, Marília Mendonça e Sandy) e uma atriz no papel de cantora (Camila Queiroz) como convidadas a sentar no banquinho ao lado do astro. Contudo, a estética retrô se limita ao visual do cenário do DVD que a gravadora Som Livre vai pôr nas lojas após a exibição da gravação nos cinemas, programada para a próxima terça-feira, 8 de novembro. O repertório inédito de 1977 tem o tom dos dias de hoje nas levadas e nas letras repletas de palavras (playlist, por exemplo) que manterão o cantor conectado ao público jovem e majoritariamente feminino que o segue em redes sociais.
Musicalmente, Luan prioriza o toque acústico do violão nos arranjos. Contudo, mesmo soando cada vez mais pop romântico, o repertório do jovem astro ainda flerta bastante com o universo sertanejo em músicas como a balada Primeira semana (Filipe Scandurras), KM 70 (Luan Santana e Marcos Carvalho), e Eu, você, o mar e ela, de cadência mais sensual e acelerada. Dentro desse (amplo) universo particular que mobiliza multidões Brasil afora, o petardo mais certeiro de 1977 é Fantasma (Mateus Aleixo), música interpretada em dueto com Marília Medonça, a cantora-sensação do sertanejo na atualidade. Fantasma versa sobre amor unilateral que assombra a personagem da canção. Lançado ontem na web, o clipe da música já contabiliza mais de 1,2 milhão de visualizações no YouTube.
A propósito, a sofrência é tema recorrente no repertório de 1977. Até Ivete Sangalo, cantora baiana de repertório geralmente solar, entra neste tom mais lacrimoso ao fazer dueto com Luan em Estaca zero (Breno Cesar, Márcia Araújo, Vinicius Peres, Diego Monteiro e Caio Cesar), música de clima similar ao do dueto com Marília Mendonça.
Mas são outras músicas que confirmam o upgrade de Luan com o lançamento de 1977. A parceria e o dueto com Ana Carolina – na sedutora balada Plano da meia noite, composta por Ana com Luan e Douglas Cesar – reverberam a passionalidade recorrente no cancioneiro da artista mineira, confirmando a evolução do cantor. Já a música gravada com Sandy, Mesmo sem estar, aborda a sofrência com a delicadeza típica da cantora paulista em arranjo com piano e cordas. A canção é de autoria dos compositores Umberto Tavares e Jefferson Junior, habituais fornecedores de repertório pop funk para cantoras como Anitta e Ludmilla.
Anitta, a propósito, entra na levada romântica da canção RG (Luan Santana, Mateus Aleixo, Rafael Torres e Felipe Oliver), conduzida de início pelo violão de Luan no arranjo que ganha progressiva intensidade e um coro quase épico. Na letra, Anitta e Luan duelam para ver quem detalha mais hábitos e costumes do ser amado. Destaque do repertório, a bucólica canção Butterfly – de autoria de dois compositores hitmakers egressos da década de 1970, Paulo Debétio e Paulinho Resende – segue a toada lírica de canções ruralistas com bom resultado. Amor de interior (Diogo de Paula, Filipe Scandurras, Gabriel Sirieiro, Rodrigo de Paula e Thiago Maximino) também se situa no campo com romantismo simples que evoca a personagem da atriz Camila Queiroz, convidada meramente eficaz da canção, na novela Êta mundo bom! (TV Globo, 2016).
Sim, Luan Santana às vezes banca o amante à moda antiga, mas também sabe acender o fogo dos amores dos dias de hoje. Acordando o prédio (Douglas César) fala de sexo com a língua do povo. Está longe de ser a melhor música de 1977, posto dividido entre Butterfly, Plano da meia noite e Dia, lugar e hora. Mas é inegável que, entre trivialidades, hits certeiros (como Fantasma) e algumas boas canções, Luan Santana evolui sem trair o estilo e o público que lhe deram fama e fortuna.